E
obtive respostas que eu não esperava
Joe
McKeever
Eu
tinha pregado por mais de duas décadas e eu devia estar satisfeito comigo
mesmo. A igreja que eu servia tinha crescido para 1.500 pessoas nos cultos de
domingos de manhã e o programa de televisão de nossos cultos cobria uma
considerável parte de vários estados. A maioria dos meus colegas pensava que eu
tinha atingido o topo e, se convites para pregar em outras igrejas significavam
alguma coisa, eles achavam que eu sabia pregar.
Mas
eu não pensava assim.
Minha
confiança estava levando uma surra, já que alguns dos líderes me informaram repetidamente
que meu trabalho no púlpito não estava à altura dos seus padrões. Pastores
anteriores levavam a reputação de mestres do púlpito, algo que eu nunca
reivindiquei para mim. Para tornar as coisas piores, tínhamos várias lacunas na
equipe de trabalho da igreja e minha preparação de sermões estava sofrendo por
causa de um pesado fardo de ministério pastoral. Mas você faz o que tem de
fazer. Na maioria dos dias, meu objetivo era sobreviver. Cada dia a mais sem
ter afogado já era um bom dia.
Foi
aí que eu me tornei sério a respeito de orar pela minha pregação. Toda noite eu
fazia uma caminhada de seis quilômetros por minha vizinhança e falava com o
Pai. Minhas petições lidavam com as coisas usuais — necessidades de família,
pessoas com as quais eu estava preocupado e a igreja. Gradualmente, uma oração
começou a se repetir em minhas súplicas. “Senhor”, eu orei, “faça de mim um
pregador”. Pedir isso parecia tão certo que eu nem parei para analisar. Orei
isso de novo e de novo, repetidas vezes, por várias semanas.
Eu
estava no meu quinto pastorado. Tinha alguns títulos de seminário. Tinha lido
os clássicos sobre
pregação e completado a minha quota de participações em seminários sobre sermões.
Era um veterano. Mas aqui estava eu na metade dos meus quarenta anos,
implorando aos céus por ajuda: “Senhor, faça de mim um pregador”. Eu sabia que,
se minha pregação melhorasse, se a congregação se sentisse melhor a respeito
dos sermões, todo o resto se beneficiaria. Eu sabia que o sermão é a
melhor contribuição de um pastor para a vida espiritual de seus membros. Fazer
as coisas corretamente ali diminuiria a pressão em outras áreas. Assim, orei.
Então
uma noite, Deus respondeu.
Quatro
pedidos específicos
Sem
aviso, no silêncio da noite escura nas ruas da cidade, Deus falou dentro de
mim: “O que exatamente você quer dizer com isso?”. A questão me acertou com
tanta força que ri alto e disse: ” Que grande pergunta. O Senhor quer saber o
que eu quero dizer?”. Pelo resto da minha caminhada, refleti sobre a
investigação de Deus da minha oração por demais genérica. Sabia que não estava
pedindo aclamação pública nem para entrar para a lista de grandes pregadores de
qualquer pessoa. Eu apenas queria ser eficiente, fazer bem o que Deus havia me
chamado a fazer. Mais tarde naquela noite, em casa, listei quatro pedidos
específicos e comecei a direcioná-los ao pai.
Nunca
mais quero me levantar para pregar sem uma boa compreensão das Escrituras.
Estou cansado de não ter clareza do texto à minha frente. Quero que a mensagem
de Deus me acerte em cheio, tomando completamente o meu coração. Quero pregar
com paixão genuína. Quero uma boa sintonia com a congregação. Estou cansado
daquele olhar sem expressão no rosto das pessoas. Quero fazer contato
com elas, para transmitir a mensagem de maneira eficaz. Quero ver vidas
transformadas. Se o ponto central da pregação é que a Palavra de Deus faça
diferença na vida das pessoas, então preciso estar em ordem quando peço ao Pai
para me dar sucesso ao realizá-la.
Aprendi
uma coisa a respeito da minha vida de oração. Por anos, minhas orações haviam
sido manchadas pela desgraça das generalidades. Elas haviam sido: ”Abençoe
este”, “Ajude aquele”, “Fortaleça-o”, e: “Encoraje-a”. Um dia, percebi, em
Lucas 18.35-43, aquele intercâmbio entre o Senhor e o cego Bartimeu, cujas
súplicas por socorro — “Jesus, filho de Davi, tem misericórdia de mim!” —
haviam alcançado os ouvidos do Senhor. O mendigo de Jerico, repetidas vezes,
lançou ao ar os seus gritos por misericórdia, tentando gritar mais alto
que as repreensões e as objeções dos habitantes locais que estavam
constrangidos com sua insistência. “Tragam-no a mim”, Jesus disse. Quando
Bartimeu parou em frente dele, nosso Senhor perguntou: “O que você quer que eu
lhe faça?”.
Nós,
modernos, ficamos tentados a censurar o Senhor por sua insensibilidade nesse
ponto. “Senhor”, diríamos nós, “qualquer um pode ver o que ele precisa. Ele
está suplicando por misericórdia. Ele precisa de sua visão”. Mas a questão era
se Bartimeu sabia disso. Ele poderia apenas ter pedido dinheiro, um local
melhor para mendigar, assistência, um programa de treinamento para os cegos ou
uma centena de outras coisas. O Senhor simplesmente pediu ao homem que fosse
específico em sua oração: “O que você quer que eu lhe faça?”. “Senhor, eu quero
ver”. “Recupere a visão!”, disse o Salvador. E ele viu.
Desse
ponto em diante, coloquei esses quatro pedidos em oração nas minhas caminhadas
noturnas: Quero estar firmado na Palavra, que esta tome conta de mim
completamente, que eu tenha boa sintonia com meus ouvintes e quero ver vidas
transformadas. Logo, eu estava sem púlpito e sem igreja.
Boas
novas de entrevistas de saída
O
conflito na igreja que eu estava servindo se intensificou a ponto de termos de
trazer um mediador. Ele entrevistou líderes da igreja, assistiu vídeos de minha
pregação e fez uma pesquisa de opinião com a congregação, então escreveu seu
relatório. ” Joe não é um gigante do púlpito”, ele disse, “mas ele é um
pregador relativamente bom . Isso me encorajou. Então ele me recomendou a
deixar a igreja. Concordei. Tirei um ano de licença e esperei o telefone tocar.
Alguns convites para encontros de avivamento e conferência apareceram durante
aquele ano; nenhuma igreja — a não ser as mais minúsculas — chegaria a me
considerar um pastor em
potencial. Minha confiança em minha pregação foi ao fundo do
poço.
Não
por coincidência, a igreja que me chamou para ser pastor um ano depois também estava no fundo
do poço. Ela havia sofrido uma cisão desastrosa. Metade dos seus membros havia
deixado a igreja, e o restante havia sido sobrecarregado com um grande fardo de
responsabilidades. Nossos primeiros cinco anos juntos não foram fáceis.
Gradualmente, entretanto, começamos a ver que o Senhor estava trazendo algo
especial. Um dia, eu olhei em volta e percebi que havíamos nos tornado uma
igreja saudável novamente, que dá prazer e alegria de servir.
Foi
aí que a outra surpresa apareceu, uma surpresa só para mim. Depois de
participar de uma conferência da Igreja de Saddleback sobre igrejas dirigidas
por propósitos, começamos a mandar fichas de resposta aos visitantes da igreja.
Essas observações voltavam ao escritório da igreja, dizendo-nos o que nossos
convidados haviam percebido primeiro, do que tinham gostado mais e o que
apreciado menos a respeito de sua visita à nossa igreja. Para minha completa
admiração, muitos ficaram impressionados com a pregação. Ainda recordo estar em
pé ao lado da escrivaninha da minha secretária lendo duas fichas que haviam
chegado no correio de manhã. Ambas expressavam gratidão por meus sermões.
“Estou completamente surpreso”, murmurei. Ela olhou para cima de sua
escrivaninha: “Pastor, todo mundo ama sua pregação”.
“Acho
que não sabia”, respondi.
Para
ser honesto, ainda não estou bem convencido. Mas decidi que isso está bem. O
objeto de minhas orações nunca foi que pessoas gostassem de minha pregação. Nem
que eu mesmo gostasse dos meus sermões. Foi uma oração por eficiência para
fazer o que Deus me chamou a fazer. Boa música, assim dizem, é música que é
mais bem escrita do que alguém poderia tocar. Talvez seja assim com o evangelho
de Cristo. A mensagem é muito superior a qualquer expressão humana dela. Um pai
gracioso se apropria dos esforços de seus servos frágeis e os usa para mudar
vidas. O ano que vem completo o quadragésimo aniversário de meu ministério, e
eu ainda me sinto inadequado em relação à pregação. Isso não só está bem assim,
mas penso que é a maneira apropriada de nos sentir em relação ao chamado que
está tão acima da capacidade de qualquer um de nós, mortais — proclamar as
riquezas de Cristo com a linguagem humana. Isso me força a orar pela minha
pregação.
Texto
extraído do Livro: A arte e o oficio da Pregação Bíblica. Cap.17.